domingo, 12 de junho de 2011

Velha História - Vinícius de Moraes

Depois de atravessar muitos caminhosUm homem chegou a uma estrada clara e extensa
Cheia de calma e luz.
O homem caminhou pela estrada afora
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol
Com o peito cheio de cantos e a boca farta de risos.
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa
Que se perdia na planície uniforme.
Caminhou dias e dias…
Os únicos pássaros voaram
Só o sol ficava
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida.
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte
Mas o sol tinha secado todas as fontes.
Ele perscrutou o horizonte
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas.
Ele perscrutou o céu
E não viu nenhuma nuvem.

E o homem se lembrou dos outros caminhos.
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono.
Lá havia tempestade e havia bonança
Havia sombra e havia luz.

O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta
Olhou longamente para dentro de si
E voltou.

Aqui onde se espera - Fernando Pessoa

Aqui onde se espera

- Sossego, só sossego -

Isso que outrora era,


Aqui onde, dormindo,

-Sossego, só sossego -

Se sente a noite vindo,


E nada importaria

- Sossego, só sossego -

Que fosse antes o dia,


Aqui, aqui estarei

- Sossego, só sossego -

Como no exílio um rei,


Gozando da ventura

- Sossego, só sossego -

De não ter a amargura


De reinar, mas guardando

- Sossego, só sossego -

O nome venerando...


Que mais quer quem descansa

- Sossego, só sossego -

Da dor e da esperança,


Que ter a negação

- Sossego, só sossego -

De todo o coração?